quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Aleijadinho e o Barroco no Brasil

Muitos duvidam que ele tenha existido. Aos que acreditam, sobra o mistério do motivo de sua morte. O fato é que, Aleijadinho tem uma importância notória principalmente no processo de “abrasileiramento” do Barroco no Brasil.

Ele é considerado um dos maiores artistas brasileiros e imprimiu em suas obras características dos povos e da sociedade brasileira, incluindo a miscigenação característica.

Seu nome na verdade é Antônio Francisco Lisboa, mas o apelido surgiu por conta das características da doença que o acometeu. Doença esta que privou seus movimentos, mas nunca sua capacidade de criação.

Imortalizado por suas obras, é considerado um dos maiores nomes do Barroco brasileiro, com composições arquitetônicas e trabalhos com esculturas. Suas matérias primas principais eram a pedra sabão e o cedro.

Suas obras se encontram em Minas Gerais e misturam, até hoje, o êxtase, a comoção e o encantamento.


               Projeto Arquitetônico - Igreja São Francisco de Assis 
                                  (modificada por Cerqueira).


                   Retábulo da Capela Mor- Igreja São Francisco de Assis


                     Escultura - Anjo com cálice da Paixão (Congonhas).

Barroco Europeu X Barroco Brasileiro

Na obra dos artistas barrocos europeus o emocional sobrepõe o racional; a exploração de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas, colunas retorcidas; entrelaçamento entre a arquitetura e escultura são nítidos. 

Os artistas barroco europeus valorizam as cores, as sombras e pintura com efeitos ilusionistas, dando-nos às vezes a impressão de ver o céu, tal a aparência de profundidade conseguida. Os temas principais são: mitologia, passagens bíblicas e a história da humanidade. 
                                 O extase de Santa Teresa - Bernini

Apesar de o barroco brasileiro ser influenciado pelo barroco europeu, no caso mais precisamente de Portugal, com o tempo o barroco brasileiro foi assumindo características próprias - que podemos evidenciar nas obras de Aleijadinho, nos artigos do escritor e critico Mario de Andrade que empenhava-se em afirmar uma identidade cultura “verde e amarela” e através do Sphan (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)que consolidava Aleijadinho como o pioneiro na inauguração de uma expressividade local.

Na arte podemos diferenciar essas características analisando as pinturas, escultura, ornamentações principalmente de igrejas e etc.

No barroco europeu observamos tons mais escuros e suaves em comparação com barroco brasileiro que possui tons mais fortes e expressivos com o uso de cores vivas evidenciado principalmente nas pinturas do mestre Ataíde.

É na suavidade do estilo rococó mineiro que se encontra a expressão mais original do barroco brasileiro. A extrema religiosidade popular, sob o patrocínio exclusivo das associações laicas, se expressa em um espírito contido e elegante, gerando templos harmônicos e dinâmicos de arquitetura em planos circulares, com graciosa decoração em pedra-sabão. As construções monumentais são substituídas por templos intimistas de dimensões singelas e ornamentação requintada, mais apropriada à espiritualidade e as condições sociais do povo.

Um dos exemplos mais expressivos deste estilo pode ser verificado na Igreja
da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência (1767) cujo frontispício, retábulos laterais, o altar-mor, púlpitos e lavabo são de autoria de Aleijadinho.

Aleijadinho x Bernini

Bernini tinha como característica principal de sua obra o realismo . Além da expressividade figurativa dos rostos, suas obras esculpidas em mármore são ainda mais elaboradas, a maioria delas tendo posição em movimento e utilização de planejamentos volumosos e agitados
As características específicas destoam nestas obras que procuram glorificar a religiosidade. Multiplicavam-se anjos e arcanjos, santos e virgens, deuses pagãos e heróis míticos, agitando-se nas águas das fontes e surgindo dos seus nichos nas fachadas, quando não sustentavam uma viga ou faziam parte dos altares.

 Aleijadinho usava muito em suas esculturas características do rococó, o estilo clássico e gótico. A grande maioria de suas obras foram esculpidas em pedra-sabão ou madeira. As marcas das obras de Aleijadinho são:olhos mongóis, maçãs do rosto saliente, queixo bipartido e cabelos em caracóis.As expressões das suas obras sugerem duas hipóteses:refletir o drama pessoal do artista ou o sentimento trágico dos inconfidentes mineiros.

Veja a analise das principais obras desses grandes artistas :

                                 O Êxtase de Santa Teresa (Bernini)


O Êxtase de Santa Teresa foi esculpido  durante o período de 1645-1652, seguindo as tendências do estilo barroco, hoje ela se encontra em um nicho em mármore e bronze dourado na Capela Cornaro,na cidade de Roma A beleza da obra se deve ao uso da iluminação e da fidelidade da escultura, que conferem à obra sensibilidade, pois o escultor aplicava em suas esculturas o uso de corpos alongados, gestos expressivos, expressões mais simples mas mais emocionadas.


O Profeta Daniel (Aleijadinho)

Os traços fisionômicos da escultura mostram um jovem imberbe como Baruc e Abadias. Entretanto, a fisionomia de Daneil difere da deles, pelo recorte especial dos olhos, a boca e o nariz longo, de narinas fortemente sulcadas, revelando em seu conjunto uma expressão altaneira e distante, própria de um herói cônscio de sua força. A coroa de louros que decora a mitra da cabeça acentua esse aspecto e é uma alusão evidente à vitória sobre os leões. 
Como Ezequiel , Daniel veste uma túnica longa, presa na cintura por uma faixa abotoada no colarinho. Nessa escultura, parece que Aleijadinho dispensou qualquer colaboração de seus auxiliares. Trata-se da estátua de maior dimensão de todo o conjunto e, apesar disso, a peça é monolítica e particularmente bem executada, revelando, sem dúvida, a marca do gênio de Aleijadinho

Introdução

O estilo barroco nasceu em decorrência da crise do Renascimento, ocasionada, principalmente, pelas fortes divergências religiosas e imposições do catolicismo e pelas dificuldades econômicas decorrentes do declínio do comércio com o Oriente.
Todo o rebuscamento presente na arte e literatura barroca é reflexo dos conflitos dualistas entre o terreno e o celestial, o homem (antropocentrismo) e Deus (teocentrismo), o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo presente no período renascentista.


1) A arte da contrarreforma
A ideologia do Barroco é fornecida pela Contrarreforma. Em nenhuma outra época se produziu tamanha quantidade de igrejas, capelas, estátuas de santos e monumentos sepulcrais. As obras de arte deviam falar aos fiéis com a maior eficácia possível, mas em momento algum descer até eles. A arte barroca tinha que convencer, conquistar e impor admiração.
2) Conflito entre corpo e alma
O Renascimento definiu-se pela valorização do profano, pondo em voga o gosto pelas satisfações mundanas. Os intelectuais barrocos, no entanto, não alcançam tranquilidade agindo de acordo com essa filosofia. A influência da Contrarreforma fez com que houvesse oposição entre os ideais de vida eterna em contraposição com a vida terrena e do espírito em contraposição à carne. Na visão barroca, não há possibilidade de conciliar essas antíteses: ou se vive a vida sensualmente, ou se foge dos gozos humanos e se alcança a eternidade. A tensão de elementos contrários causa no artista uma profunda angústia: após arrojar-se nos prazeres mais radicais, ele se sente culpado e busca o perdão divino. Assim, ora ajoelha-se diante de Deus, ora celebra as delícias da vida.
3) O tema da passagem do tempo          
O homem barroco assume consciência integral no que se refere à fugacidade da vida humana (efemeridade): o tempo, veloz e avassalador, tudo destrói em sua passagem. Por outro lado, diante das coisas transitórias (instabilidade), surge a contradição: vivê-las, antes que terminem, ou renunciar ao passageiro e entregar-se à eternidade?               
4) Forma tumultuosa
O estilo barroco apresenta forma conturbada, decorrente da tensão causada pela oposição entre os princípios renascentistas e a ética cristã. Daí a frequente utilização de antíteses, paradoxos e inversões, estabelecendo uma forma contraditória, dilemática. Além disso, a utilização de interrogações revela as incertezas do homem barroco frente ao seu período e a inversão de frases a sua tentativa na conciliação dos elementos opostos.
5) cultismo e conceptismo
cultismo caracteriza-se pelo uso de linguagem rebuscada, culta, extravagante, repleta de jogos de palavras e do emprego abusivo de figuras de estilo, como a metáfora e a hipérbole. Veja um exemplo de poesia cultista:
Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas, A quem infiéis despedaçaram
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo. 
(Gregório de Matos)
Já o conceptismo, que ocorre principalmente na prosa, é marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, nacionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. A organização da frase obedece a uma ordem rigorosa, com o intuito de convencer e ensinar.

Figuras de Linguagem no Barroco

As figuras de estilo mais comuns nos textos barrocos reforçam a tentativa de apreender a realidade por meio dos sentidos. Observe:
Metáfora: é uma comparação implícita. Tem-se como exemplo o trecho a seguir, escrito por Gregório de Matos:
Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Antítese: reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo. Revela o contraste que o escritor vê em quase tudo. Observe a seguir o trecho de Manuel Botelho de Oliveira, no qual é descrita uma ilha, salientando-se seus elementos contrastantes:
Vista por fora é pouco apetecida
Porque aos olhos por feia é parecida;
Porém, dentro habitada
É muito bela, muito desejada,
É como a concha tosca e deslustrosa,
Que dentro cria a pérola formosa.
Paradoxo: corresponde à união de duas ideias contrárias num só pensamento. Opõe-se ao racionalismo da arte renascentista. Veja a estrofe a seguir, de Gregório de Matos:
Ardor em firme Coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido.
Hipérbole: traduz ideia de grandiosidade, pompa. Veja mais um exemplo de Gregório de Matos:
É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
Prosopopeia: personificação de seres inanimados para dinamizar a realidade. Observe um trecho escrito pelo Padre Antonio Vieira:
No diamante agradou-me o forte, no cedro o incorruptível, na águia o sublime, no Leão o generoso, no Sol o excesso de Luz.